Friday, May 7, 2010

Cap

Já perdi as vezes que olhei para o relógio… O céu cada vez mais carregado e sisudo, leva-me a acreditar que algures chora sobre alguém, desprovido de abrigo, perdido de sentido… Alguém que espera que o encontrem, que o salvem, que o abracem…

Mas que vagabundo é este que deambula no seu interior e evita exteriorizar o medo, consumindo a própria dor? Vejo-o sentado sobre si mesmo, procurando esmagar a revolta que o imobiliza. Vejo-o puxar de mais um cigarro, tentando libertar no fumo que expira o sofrimento e torpor assimilados durante anos. Vejo-o recordar com saudade e desprezo. Vejo-o confrontar-se com o presente, ansiando que o futuro chegue mais tarde. Vejo-o querer adormecer, sem ter de acordar. Vejo-o forte, sinto-o fraco e assustado.

Seguro-lhe a mão, sem que se aperceba. Beijo-lhe a testa em tom de confissão. Limpo-lhe as lágrimas libertadas com frustração. E segredo-lhe ao ouvido antes de lhe sorrir: “Estou aqui contigo… não te vou deixar cair…”